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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Flamengo comemora 30 anos da conquista da Libertadores

Enquanto o Flamengo tropeça nas próprias pernas e vive a expectativa de saber se irá ou não conseguir a vaga para a Copa Libertadores de 2012 - há pouco tempo dada como certa-, o clube comemora nesta quarta-feira um dos capítulos mais bonitos de sua história. Há exatos 30 anos Zico, Junior, Andrade, Adílio e companhia derrotavam o Cobreloa, do Chile, por 2 a 0, e traziam o mais importante troféu sul-americano para a Gávea.
Naquela noite de 23 de novembro, em que uma verdadeira aula de futebol conseguiu transformar em rubro-negro até quem não dava a mínima pelo esporte, não se encerrava apenas mais uma história de um time capaz de se impor diante de seus adversários. Era o fim de uma epopeia. Dessas que, por algum fenômeno quase  inexplicável, são contadas com um enorme nível de detalhamento mesmo por aqueles que sequer sonhavam nascer.
"O reconhecimento é extremamente prazeroso. É um retorno positivo do meu trabalho pelo Flamengo e por todos os clubes pelo qual eu passei. Prova que sou uma lenda viva no futebol brasileiro. Sei que, enquanto existir o mundo e enquanto existir o Clube de Regatas do Flamengo, tudo o que fiz jamais será esquecido", diz Nunes, o ' artilheiro das decisões', emocionado.
Time do Flamengo campeão da Libertadores em 1981
Time do Flamengo campeão da Libertadores em 1981
Tanta admiração é mais do que justificada. Com um futebol vistoso, o Flamengo passou por equipes tradicionais como o Atlético-MG [mais sobre este jogo no fim do texto], o Cerro Porteño e o Olímpia, ambos do Paraguai, entre outras, e chegou àquela decisão com status de favorito. Com dois gols de Zico e os gritos dos cerca de 93 mil torcedores que foram ao Maracanã, o time venceu por 2 a 1 e deu o primeiro passo rumo ao título. O atacante Merello, de pênalti, descontou para os visitantes.
A partida em campos cariocas foi realizada em uma sexta-feira 13, mas, por ironia do destino, seria o jogo seguinte que guardaria um enredo digno de filme de terror. Inferiores, os chilenos aproveitaram-se da complacência da arbitragem para tentar minimizar a diferença técnica na base da violência. Em um Estádio Nacional do Chile superlotado (estimam-se 65 mil pessoas presentes),  o Rubro-Negro - que precisava de apenas um ponto para ser campeão - conseguiria muitos mais. Pelo corpo.
O zagueiro Mario Soto, com uma pedra na mão, desferia golpes contra os jogadores do Flamengo, que pouco podiam fazer. Adílio rompeu o supercílio e deu tons de vermelho sangue à camisa branca usada na ocasião. Lico, o mais castigado, além de ter a testa aberta e quase ficar cego, perdeu dois dentes. Já Júnior foi brutalmente pisado enquanto estava caído e passou ostentar as marcas das chuteiras adversárias na perna. Nesse cenário de guerra, era difícil imaginar qualquer resultado que não fosse a derrota. Ela quase foi evitada, mas, aos 28 do segundo tempo, Vítor Merello bateu falta de longe, a bola desviou em Leandro, e morreu nas redes de Raul: 1 a 0. O campeonato seria decidido em jogo extra, no Uruguai.
"Eles começaram a tentar definir as coisas fora de campo. Quando chegamos ao estádio bateram no nosso ônibus, e os policiais deram "pescoções" na gente e ameaçaram soltar os cachorros. Dentro, a estratégia deles era fazer com que algum de nossos jogadores fosse expulso. Tínhamos que apanhar e ficar na nossa, pois sabíamos que seríamos punidos caso revidássemos. Aquele também foi um jogo de inteligência", relata Adílio.
Local da final da Copa do Mundo de 1930, o Estádio Centenário de Montevidéu também seria o palco da decisão da Libertadores de 1981. Desta vez sem contar com a benevolência do juiz, as coisas ficaram complicadas para o Cobreloa. Artilheiro e considerado o melhor jogador da competição, Zico - que já havia marcado 9 vezes - anotou mais dois e deu a tão sonhada vitória ao Flamengo. A América, enfim, era rubro-negra. 
O soco de Anselmo
Mas não bastava ao Flamengo vencer, era preciso lavar a alma da torcida. A poucos minutos do fim, com a partida já resolvida, o técnico Paulo César Carpegiani decide botar o atacante Anselmo no lugar de Nunes. Ao jovem de 22 anos, chamado às pressas para o jogo, somente uma instrução: derrubar Mario Soto. E assim foi. Anselmo nocauteou o zagueiro, provocou uma briga generalizada e virou ídolo. 
No dia seguinte à partida, o jornalista João Saldanha vibrava neste JB com a cacetada no zagueiro chileno. Ele, que dizia estar com a violência do Cobreloa no primeiro jogo atravessada na garganta, afirmou que alertou a Zico e a Carpegiani que, se o rubro-negro voltasse a "abaixar a cabeça", perderia novamente.
Anselmo acerta soco no zagueiro Mário Soto no segundo jogo da final
Anselmo acerta soco no zagueiro Mário Soto no segundo jogo da final
"O time do Flamengo não podia afinar, já que não se tratava mais de futebol, tratava-se de uma briga (...) A paulada que o Andrade deu no cara foi, a meu ver, decisiva, pois dali em diante o jogo acalmou e parecia outra partida. Faltava a devolução ao Mário Soto, que não vinha jogando bola, apenas dava socos e pontapés para todos os lados. Já que o árbitro dentro de campo não tomava providências, alguém tinha que tomar. E o Anselmo se encarregou de dar o troco no zagueiro deles", avaliou em seu artigo Saldanha.
"O futebol do Flamengo é superior, nosso futebol é superior, mas não vamos levar para casa soco na cara, cusparadas e provocações gratuitas (...)E novamente eu volto a alertar: nunca devemos dar a primeira, mas dar o troco na hora certa é importante num jogo como este", concluiu.
Zico: foi a competição mais dura que joguei
Com a experiência de quem, em pouco mais de 20 anos de carreira, jogou duas Copas do Mundo e acumulou títulos e a idolatria de torcedores por onde passou, Zico lembra com saudades do tempo em que liderou o Flamengo rumo às suas maiores conquistas.
Em entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil, o Galinho de Quintino fala sobre as dificuldades de disputar a Libertadores na década de 80, o polêmico duelo contra o Atlético-MG e sobre o soco de Anselmo. Ao contrário da torcida, Zico reprovou a atitude. 
Além disso, o craque ainda analisa a última participação do Flamengo na Libertadores e fala do que o clube vai precisar para voltar a ser campeão, caso consiga se classificar para o torneio do ano que vem.
Flamengo x Atlético-MG: confusão e acusações
Uma das maiores polêmicas do torneio acontece ainda na primeira fase. Após terminarem empatados na liderança do Grupo 3, com 8 pontos, Flamengo e Atlético-MG fizeram um jogo extra, no Estádio Serra Dourada, em Goiânia, para definir quem avançaria às semifinais da competição. O Galo, que também contava com diversos craques da Seleção Brasileira, entrou em campo com a convicção de que poderia se vingar da derrota na final do Campeonato Brasileiro de 1980. 
Mas isso não ocorreu. Depois que o árbitro José Roberto Wright expulsou o centroavante Reinaldo, que acabara de cometer falta por trás em Zico, os mineiros se descontrolaram, passaram a reclamar com veemência e a ser expulsos em série.  Aos 37 minutos, já sem Éder, Reinaldo, Chicão, Palhinha e Cerezo - além do técnico Carlos Alberto Silva -, o Atlético-MG ficou com menos jogadores do que o permitido pela regra, e o Flamengo foi declarado vencedor. Para os atleticanos, que até hoje reclamam do episódio, o Rubro-Negro foi beneficiado no duelo.
Rivalidade e equilíbrio marcaram os confrontos entre Flamengo x Atlético-MG no início dos anos 80
Rivalidade e equilíbrio marcaram os confrontos entre Flamengo x Atlético-MG no início dos anos 80
O volante Andrade, que garantiu o título nacional de 1980 ao Flamengo ao salvar o que seria o gol de empate nos últimos minutos, mostra-se irritado com as acusações. Para ele, tudo não passa de uma tentativa de tirar o foco do fracasso do Galo. "O Atlético-MG tinha um belo time, mas não conseguiu manter a calma. Já havia todo um clima de rivalidade por causa da final do Brasileiro do ano anterior e eles vieram nervosos. Não tiveram competência para nos vencer e preferiram apontar um culpado do que admitir a própria falha", alfineta.
Zico também não vê fundamentos nas teorias conspiratórias. “O José Roberto Wright é uma pessoa idônea. Antes de o jogo começar, ele falou para mim e para o Cerezo [os dois capitães] que iria expulsar o primeiro que fizesse uma falta por trás. Nunca tinha visto isso, e decidi avisar aos companheiros. O Cerezo fez o mesmo. No jogo, não deu outra. O Reinaldo me derrubou e ele mostrou o vermelho. Aí perderam a cabeça”, conclui.
A campanha vitoriosa
Jogos: 14 | Vitórias: 8 | Empates: 5 | Derrota: 1
Gols pró: 23 | Gols contra: 11 | Artilheiro: Zico - 11 gols
Elenco
Goleiros: Raul e Cantarele | Laterais: Leandro, Junior, Carlos Alberto e Nei Dias | Zagueiros: Rondinelli, Marinho, Figueiredo e Mozer | Volantes: Andrade e Vítor | Meias: Adílio, Zico, Tita, Lico | Atacantes: Nunes, Anselmo, Chiquinho, Baroninho, Peu, e Fumanchu | Técnicos: Dino Sani e Paulo César Carpegiani
Os resultados
Zico levanta o troféu da Libertadores
Zico levanta o troféu da Libertadores
Flamengo 2 x 2 Atlético (MG) 
Flamengo 5 x 2 Cerro Porteño (PAR)
Flamengo 1 x 1 Olímpia (PAR) 
Flamengo 2 x 2 Atlético-MG-
Flamengo 4 x 2 Cerro Porteño (PAR)
Flamengo 0 x 0 Olímpia (PAR)
Flamengo 0 x 0 Atlético-MG
Flamengo 1 x 0 Deportivo Cali (COL)
Flamengo 2 x 1 Willsterman (BOL)
Flamengo 3 x 0 Deportivo Cali (COL)
Flamengo 4 x 1 Willsterman (BOL)
Flamengo 2 x 1 Cobreloa (CHI)
Flamengo 0 x 1 Cobreloa (CHI) 
Flamengo 2 x 0 Cobreloa (CHI)

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