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terça-feira, 29 de maio de 2012

Time milionário e enorme dívida: duas realidades de um mesmo Flu


Inegavelmente o Fluminense é um clube de grandes números. Nem todos, porém, pendem para o lado positivo. Nas Laranjeiras, duas realidades distintas convivem num mesmo espaço. Se possui um elenco com estrelas internacionais, um dos mais valorizados do país, o time carioca tem também a segunda maior dívida entre as equipes brasileiras, (a primeira pertence ao Botafogo) cerca de R$ 405 milhões, segundo relatório divulgado pela consultoria financeira BDO.
A diferença expressiva entre quanto arrecada e quanto consegue investir no departamento de futebol não é segredo para ninguém. Atende pelo nome de Unimed, mais precisamente de Celso Barros, presidente da empresa de saúde que patrocina o clube desde 1998, injetando dinheiro na contratação e pagamento do salário de atletas.
A folha salarial do clube atualmente é de quase R$ 7 milhões. O Fluminense cuida de R$1,8 milhão, enquanto a patrocinadora responde pelo restante. Enquanto jogadores como Deco, Fred e Thiago Neves recebem juntos, mais de R$ 2 milhões por mês, sempre em dia, outras centenas cobram na Justiça dívidas produzidas por administrações ruins ao longo dos anos.
Encontrar o equilíbrio financeiro – o clube teve prejuízo de R$ 34 milhões em 2011 – nos próximos anos e começar a quitar o gigantesco endividamento é o projeto do presidente Peter Siemsen, que aprova a parceria com a Unimed. Ele rebate a visão de que a patrocinadora tira espaço das revelações das categorias de base e elogia os investimentos diretos no time, mesmo com os já conhecidos problemas de caixa do clube.
“Vejo a relação como melhor modelo de parceria que pode existir para o Fluminense. Ela garante investimento direto no futebol. E hoje estamos fazendo uma transição para que tenhamos parte do elenco com jogadores de nível mundial, conhecidos, de imagem forte, e parte com jovens que crescem e jogam nesse grupo, como o Wellington Nem. A transição da base para o profissional acontece com mais tranquilidade. Não podemos ter apenas 'medalhões', tem que haver a mistura dos dois”, disse Peter.
A parceria também trás outro benefício ao clube carioca. Como envolve um trabalho de compra de direitos de imagem dos atletas, a Unimed reduz o pagamento de tributos e impostos do clube. Alívio para quem tem convivido com a 'corda no pescoço' nos últimos meses. Pouco para quem ainda tem apenas a 11ª receita entre os times do país. Então, a solução para manter o fluxo de caixa foi encontrada em parte nos empréstimos bancários, que saltaram de R$ 30 para R$ 45 milhões de 2010 para 2011.
Para Mauro Rochlin, professor de Economia e Finanças do Ibmec, a dívida com os bancos é a mais perigosa para os clubes de futebol, pelos juros mais altos e possibilidade de perder crédito para empréstimos futuros. Muitos recorrem aos adiantamentos nas cotas de televisão, o que também é visto como perigoso.
“As grandes dívidas estão congeladas na Timemania ou em ações trabalhistas que podem se arrastar, por isso, mesmo com prejuízo sistemático nos últimos anos, os times conseguem sobreviver. Com o banco é complicado, pois se os empréstimos não forem pagos, o clube pode perder crédito na praça e não consegue manter fluxo de caixa. E a operação que envolve mais risco. Ao adiantar cotas, você não cria um débito novo, mas compromete o orçamento das próximas gestões” disse Rochlin.
Maracanã, sócio futebol e um aperto na gravata 
A redução na diferença entre o que gera de receitas e o que gasta com o clube por ano é a principal meta para o departamento financeiro do Fluminense. Só depois disso o time deve começar a usar receitas da venda de jogadores, ações de marketing especiais e premiações por títulos para começar a diminuir a montanha de dívidas, que cresceu 47% de 2007 para cá.
Para isso, a volta do Maracanã, a redução de custos do clube social – no futebol, a conta engordou em quase R$ 10 milhões de 2010 para 2011 - e a criação de um novo modelo de sócio torcedor, inspirado no Internacional e que ainda precisa ser aprovado pelo Conselho Deliberativo do clube, são vistos como passos importantes para o futuro financeiro do time.
“A gente já está reduzindo bastante o custo do clube, gerando receitas de jogadores que não ficam no profissional vindos das divisões de base. O clube recebia R$ 400 mil por mês de mensalidade até 2010 e hoje recebe R$ 1 milhão. Enviei para o Conselho uma mudança para criar o sócio futebol, que terá direito ao voto, desconto e preferência nos ingressos, mas sem poder usar a área de esportes Olímpicos do clube”, explicou Peter Siemsen.
O projeto prevê mensalidades em torno de R$ 30 a R$ 40 reais por mês e a ambição é grande. Dobrar a receita de sócios, que em 2011 foi de R$ 7,5 milhões. A oposição, porém, acusa a medida de ser eleitoreira e acredita que o presidente se beneficiaria na próxima eleição, no final de 2013.
A volta do Maracanã também é vista como fator importante para aumentar a capacidade de geração de receita de bilheteria. O clube viu suas arrecadações com ingressos caírem quase pela metade desde o fechamento do estádio. As conversas com a IMX, empresa de Eike Batista que declarou interesse em participar do processo de concessão, já foram estreitadas.
Parcelamento da dívida trabalhista e Timemania em segundo plano 
As duas mordidas mais violentas no time carioca vêm da Timemania e do Ato Trabalhista. Somados, os valores chegam a R$ 224 milhões, mais que a metade de todas as dívidas do clube. A primeira foi deixada de lado pelo Fluminense, que apenas controla o valor com o pagamento dos juros para não aumentar a dor de cabeça. Para Peter Siemsen, a Timemania faliu e não existe razão para resolver um problema comum a todos os times brasileiros.
“Eu preciso mais desse dinheiro no meu fluxo de caixa do que para abater um débito que todos os clubes têm em uma loteria que está, de certa forma, fracassada no sentido de ajudar a solucionar o problema. Além disso, só de juros do ano passado para cá, tivemos uma correção de R$ 10 milhões. Eu só vou tratar essa dívida politicamente, com uma nova lei no Congresso, com algum movimento dos clubes em conjunto. Não há sentido em ir pagando ela, apenas tenho que manter sobre controle”.
Criada em 2008 pelo governo federal, a Timemania era uma tentativa de ajuda os clubes no pagamento de dívidas com a União. Da arrecadação total das apostas, 22% é destinada aos times, mas o pequeno número de apostadores fez com que o projeto fracassasse. Os clubes tentam mudanças no formato da loteria junto ao Ministro dos Esportes, Aldo Rebello.
“Estou pronto para colaborar quando algo estiver em curso. Sou favorável ao criamento de um marco zero, uma solução de longo prazo que não afete o fluxo de caixa dos clubes e com obrigações que, caso não sejam cumpridas, gerem penas esportivas duras aos times. Um limite para gastos, punição com rebaixamento para quem não cumprir os pagamentos”, completou o presidente do Fluminense.
Na dívida trabalhista, que conta com ilustres nomes na lista de espera, como do técnico Oswaldo de Oliveira, do Botafogo, e do ex-coordenador técnico do Fluminense, Branco, o time conseguiu um avanço importante no final de 2011. Ao voltar ao Ato Trabalhista, acordo firmado com o Tribunal Regional do Trabalho-RJ, o time recebe receitas sem risco de penhora. O acordo, porém, não vale para novas dívidas, nem para dívidas menores que R$ 12.580,00.
“Fizemos alguns acordos no período de um ano para reduzir essa dívida, conseguimos diminuir em torno de R$ 6 milhões e voltamos ao Ato Trabalhista, onde pagamos cerca de R$ 1 milhão por mês fixo, cerca de 15% da nossa receita. É o ideal? Não, mas serve para garantir que eu tenha dinheiro em caixa", disse Peter Siemsen, que completou.
"Preciso parar de ter déficit no ano para que o dinheiro da venda de jogadores ou ações especiais de marketing possa ser usado para comprar a dívida com desconto. Com o acordo atual, a previsão é de que eu termine de pagar em nove ou 10 anos , mas posso diminuir esse tempo se tiver dinheiro em caixa para negociar”.
Para o professor Mauro Rochlin, controlar a bola de neve sem negociação com os credores é quase impossível, já que os juros das dívidas antigas podem consumir quase metade do que o clube arrecada em um ano. Sem dinheiro em caixa, mais empréstimos e mais dívidas.
“O que mais assusta ao acompanharmos os números é o peso dos juros na dívidas. Se tomarmos como exemplo, apenas para efeito de calculo, a taxa Selic, de 9 % ao ano, serão R$ 36 milhões apenas com a correção. Corresponde a 45% do que o clube teve de receita no ano passado. Que empresa tem uma margem de lucro dessa? Nenhuma. Os maiores bancos tem uma margem de lucro de 20%. Não tem jeito, o fluxo de caixa não fecha", finalizou o economista.





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