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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Canindé vazio resgata clima de várzea e 'romantismo' na Copa Sul-Americana

Era jogo de torneio continental, mas poderia muito bem se passar por uma partida típica da várzea. Assistida por somente 1.178 torcedores, a derrota da Portuguesa para o Bahia por 2 a 1 no Canindé pela segunda fase da Copa Sul-Americana mostrou que o futebol romântico, este que tende a desaparecer com a transformação dos estádios em arenas, ainda está vivo.
A noite de quinta-feira estava agradável em São Paulo, embora o horário da partida, 21h50, fosse ingrato. A bola já rolava quando quatro membros da torcida “Sucessores de Cabral” chegaram aos berros no Canindé. Sem pressa para entrar e já com alguns goles de cerveja na cabeça, os torcedores berravam uma paródia da música “O Meu Sangue Ferve por Você”, do cantor Sidney Magal, para exaltar o amor pela Portuguesa.
“Desde 1500 somos todos sucessores de Cabral”, brincou Eduardo Miranda, presidente da “organizada”. “A gente vem aqui por amor. Crescemos no Canindé. Fiz mais gols ali (aponta para uma quadra de areia do clube) do que você piscou os olhos na vida. A Portuguesa tem 500 mil torcedores e média de três mil por jogo. O Corinthians tem 30 milhões e leva quanto? Proporcionalmente quem leva mais? A nossa é mais apaixonada”, provocou seu irmão Gustavo.
Como em campeonatos amadores, o silêncio fora de campo era tanto em determinados momentos que o que jogadores falavam dentro do gramado podia ser ouvido a uma distância razoável. Os barulhos da bola sendo chutada e batendo em placas publicitárias também. Com o nível da partida relativamente baixo, já que os dois times entraram com escalações reservas, até o cheiro de churrasco vindo do estabelecimento vizinho ao estádio serviu para desviar a atenção. Como se fosse uma pelada em um clube qualquer.
No primeiro tempo, quando tinha a torcida do Bahia atrás de si nas arquibancadas, o goleiro Gledson, da Portuguesa, teve que ouvir gozações como “você é muito fraco”, “vai frangar, hein” e um ou outro xingamento graças à proximidade do alambrado com o gramado. Curiosamente, foi depois de uma destas provocações que Wallyson abriu o placar para os visitantes.
Já na segunda etapa, a derrota parcial da equipe da casa por 1 a 0 fez com que fosse mais interessante para um grupo de crianças apostar corridas pelas escadas da arquibancada. Um desses jovens, garoto de sete anos, vestia uma camisa com o nome de Dener, última grande revelação do clube rubro-verde morto em 1994, sem nem mesmo saber quem foi o craque.
"Sempre o trago para o jogo, mas às vezes é difícil manter a torcida pela Portuguesa”, admitiu o pai do menino, sem se identificar.
O gol de empate, marcado por Carlos Alberto, animou torcedores típicos daquele futebol romântico do século passado: senhores de idade com rádios de pilha colados ao ouvido. A possibilidade da vitória empolgou um grupo, que, utilizando apelidos e trocando humoradas ofensas até com o vendedor de pipocas, deixou claro que é frequentador assíduo do Canindé.
“Agora que precisa de torcida, cadê?”, reclamou um dos homens após um lance em que o Bahia quase marcou. “É difícil torcer para a Portuguesa”, lamentou outro depois que a oportunidade desperdiçada foi do time da casa.
Mal sabiam eles o que o destino reservava para os minutos seguintes. Aos 45, o atacante Obina, aquele que já foi chamado de “melhor que Eto’o”, fez o gol da vitória dos baianos. E, enquanto visitantes festejavam, anfitriões deixavam o campo sob vaias e prostestos contra o presidente Manoel da Lupa. Já Gledson, o goleiro, teve que engolir novos gritos de frangueiro. Mas desta vez de sua própria torcida.

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