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sexta-feira, 1 de março de 2013

Em Trípoli, jogadores do Fla relembram jogo na Líbia na época de Gaddafi


Há 28 anos, eles desembarcaram em Trípoli, capital da Líbia, para um jogo de futebol contra a seleção do país. No estádio, o público aguardava ansioso pelo apito inicial, que só aconteceria após a chegada - atrasada -  de Muammar Al-Gaddafi, ex-ditador deposto há dois anos. Hoje, de volta ao país que se reconstrói com o mantra da democracia, o jogo começa  com o povo, sem a autorização de um tirano.
 
- Nós já estávamos prontos, e o estádio estava lindo, lotado, mas a partida só começou quando o Gaddafi chegou  –  contou em entrevista. Paulo Henrique, que pisou pela segunda vez no gramado do Estádio Internacional de Trípoli no último domingo, relembrando com os parceiros Zé Carlos e Adílio a ida do time do Flamengo em 1985 ao país do norte da África.
 Treinamento antes do jogo contra a seleção master da Líbia - Natalia da Luz
Autoproclamando-se rei dos reis da África, a vaidade do ex-ditador limitava até mesmo o talento de quem compartilhava uma paixão nacional. A música, a literatura, as artes, o esporte sofriam repressão e tinham suas arestas de sucesso aparadas com frequência. Isso porque o surgimento de um ídolo em qualquer segmento era motivo de muita preocupação, já que Gaddafi não aceitava dividir as atenções com um conterrâneo.
 
- Eu fiquei muito feliz em poder retornar e participar de um evento tão importante para essa nova fase da Líbia. A nossa presença aqui é uma mensagem de paz. Hoje,  ao sair na rua, eu posso ver as pessoas alegres com a bandeira do país por todo o canto – destaca o lateral Paulo Henrique sobre o símbolo, que durante quatro décadas ficou escondido.
 

Bandeira e o resgate da identidade
 
As bandeiras pelas ruas e pelo estádio são novas para as gerações mais recentes, mas não para quem lutou pela independência da Itália, em 1951. Do ano da libertação até a tomada do poder de Gaddafi, em 1969, a bandeira adotada era a que tremula hoje nas ruas do país.

Quando Gaddafi assumiu o poder, em 1969, colocando para escanteio o rei Idris I, ele instituiu novas bandeiras até definir, em 1977, a que ficaria em vigor até a sua queda, em 2011. Neste período, faltava identidade, representação. Ela era absolutamente verde, sem qualquer símbolo, brasão, significado. Hoje, suas cores representam as três regiões históricas da Líbia: Fezã (vermelha). Cirenaica (preta) e Tripolitânia (verde).
Zé Carlos e Paulo Henrique pela segunda vez no país - Natalia da Luz
A partida que fez parte da celebração de dois anos do fim da ditadura (a comemoração official foi no dia 17 de fevereiro), teve placar de 2x1 (com dois gols de Renato Carioca) para a equipe brasileira e foi transmitida ao vivo, a partir de uma união de forças do Ministéro dos Esportes Líbio, da embaixada brasileira na cidade, do presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Libia, Adrian Mussi, e das empresas brasileiras em atividade no país como a Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Odebrecht, que viabilizaram o evento.  

Visita ao palácio de Gaddafi 

No passado, a visita de uma semana com dois jogos: um em Trípoli e outro a 650 quilômetros, em Bengazi, cidade que liderou a revolução contra o ex-ditador, foi de muito trabalho. Como o zagueiro Zé Carlos lembra, era do estádio para o hotel e do hotel para o treino. Em um dos intervalos, a equipe profissional do Flamengo na época foi convidada para um jantar em Bab Al Azizya, na época, residência do ex-ditador, que não apareceu, mas enviou representantes.
Presente que os jogadores ganharam durante a visita em 1985 - Paulo Henrique
- Havia muita extravagância. Era tudo de ouro, com muito luxo. Fomos recepcionados pelas autoridades e recebemos um presente do Gaddafi: um relógio em ouro com o rosto dele – detalhou Zé, que não chegou a usar o souvenir. Deu o presente ao pai, que por mais de duas décadas o usou, mas agora não lembra onde foi parar. 

Flores no lugar de jóia
Do ônibus que transportava o time, o zagueiro Zé  olhava intrigado para  o palácio que ele visitara há quase 30 anos e que fora completamente destruído durante a revolução. Durante esta curta temporada, não teve dose de extravagância. O que Zé e os companheiros receberam das  autoridades foram apertos de mãos, flores, bandeiras do país e muito carinho, uma atenção que o comoveu, relatou ao ahe!, veículo convidado pelo Ministério dos Esportes Líbio e pelos organizadores para cobrir o evento.
 
Organizadores falam sobre a importância da missão de paz do Fla
Carinho e flores foram os presentes recebidos durante a nova temporada na Líbia - Natalia da Luz
- Lembro que houve muito assédio, mas não tivemos todo esse carinho como desta vez. Agora, as pessoas foram muito gentis, afetuosas, mais abertas e isso foi muito marcante para todos nós. Formamos uma família com a companhia do embaixador Afonso Carbonar, do deputado Adrian Mussi e dos realizadores do evento – disse o zagueiro máster lembrando que, no Palácio, o brinde foi feito com chá.
 
O meio-campo Adílio, campeão do mundo pelo Flamengo em 1981, em Tokyo, também esteve presente na partida realizada em março de 1985. Assim como Paulo Henrique e Zé Carlos, ele levou um susto com a excentricidade do presente, que desta vez, teve um substituto mais humano.
 
- As pessoas tinham medo de sair, de ir às ruas. Ficavam se perguntando como deveriam agir. Até nós jogadores éramos vigiados. Neste novo encontro, a interação foi diferente. Os homens e as mulheres nas ruas e no hotel sorriram, cumprimentaram e abraçaram a gente. Esse contato mostra uma nova porta que se abre. Foi um verdadeiro presente - completou o jogador. 



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