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sábado, 30 de junho de 2012

Felipão celebra dez anos do Penta e de ‘família’ que não existe mais


O futebol brasileiro festeja neste sábado dez anos de sua última grande festa. No dia 30 de junho de 2002, o técnico Luiz Felipe Scolari comandou a seleção brasileira na conquista do pentacampeonato mundial, com a vitória por 2 a 0 sobre a Alemanha, coroando um grupo que tinha como grandes destaques Ronaldo e Rivaldo.
O treinador explica os motivos de seu elenco ter ficado conhecido como "Família Scolari" e lamenta por não ser mais possível conseguir o mesmo ambiente nos clubes atualmente. A facilidade do acesso à internet e a proliferação das redes sociais afastaram um jogador do outro, atesta o técnico, que iniciou a carreira no banco de reservas quando atletas sequer tinham celulares.
"Não existe mais ambiente, porque cada um quer se comunicar com o mundo da forma dele", lamenta. Ao detalhar o que se passou em cada um dos sete jogos que levaram ao título da Copa do Mundo da Coreia do Sul e do Japão, Felipão também revelou que sentiu muito mais dificuldades nas Eliminatórias, mas elogiou Turquia e Bélgica, que são considerados pelo comandante palmeirense como os adversários mais complicados no torneio na Ásia, superando Inglaterra e Alemanha.
Depois de dez anos da conquista, o que representa para você o pentacampeonato? 
Felipão: Foram tempos difíceis no início, até a formação daquele grupo e a ideia de como jogar. Já a Copa, que hipoteticamente seria a competição mais complicada, foi a parte mais fácil, porque o ambiente foi criado a partir do momento em que saímos do Brasil e as coisas foram se encaixando. Não precisávamos mais ter a apreensão de antes, nos amistosos e nos jogos da classificação. A partir daquele momento, tínhamos a certeza de que faríamos um belo campeonato e que todos tinham a qualidade que realmente mostraram. Foi mais fácil naquele momento.
Foi mais fácil lidar com a pressão ou você fala dos jogos? 
Felipão: Até os jogos foram mais fáceis do que nas Eliminatórias, porque os jogadores já tinham recebido a confiança de volta. As Eliminatórias tinham gerado desconfiança na cabeça de um ou outro jogador, porque pensava que poderia não ir. Mas, quando foram convocados, eles já puderam dizer novamente que tinham boas condições. Estavam colocando isso em prática e ficou mais fácil para dirigir. Eles se cobravam e se ajudavam, ficou mais tranquilo.
Durante a Copa, foi criado o termo ‘Família Scolari’. Isso foi mais coisa da imprensa ou existia mesmo? 

Felipão: É natural que tenha sido um termo da imprensa, mas por causa do ambiente de família, porque existia a preocupação de todos lá em servir à Seleção. Isso começou na primeira reunião em Barcelona (local da preparação), com o presidente Ricardo Teixeira e a comissão técnica. Quando os jogadores ouviram de quanto seria o prêmio, fizeram os cálculos na mesma hora e dividiram a premiação por todos os que lá estavam. É uma coisa que nunca tinha existido na Seleção. Incluíram roupeiro, massagista, cozinheiro, chefe de segurança... Todo mundo que estava lá recebeu igual, do Rivaldo e do treinador ao cozinheiro. E isso foi proposto pelos jogadores, sendo aceito pelo presidente. Você só pensa em favorecer alguém que tenha condição bem inferior se você está em um ambiente familiar. O maior elogio que recebi até hoje foi do ex-presidente João Havelange, que, durante uma visita antes de um jogo na Coreia, disse para todo mundo que não tinha visto em todos os anos dele de futebol um ambiente tão bom como aquele.
O Brasil vem de uma Copa em que se abriu demais (2006) e de outra em que se fechou completamente (2010). O que era proibido e permitido na sua época? 
Felipão: Nada de diferente, mas os atrasos eram proibidos, nós cobrávamos pontualidade. Era permitida toda situação que não colocasse em risco qualquer coisa que tínhamos trabalhado ou que pudesse afetar algo na Seleção. Era permitido subir e descer na concentração, andar com a imprensa, receber familiares e também que os empresários ficassem sentados lá, porque não mudaria nada. O pastor de determinada igreja tinha seu horário para fazer o culto... Mas tínhamos alguns momentos definidos, porque existiam coisas que só podiam fazer nos horários liberados para sair da concentração.
Que tipo de coisas? 
Felipão: Quem quisesse visitar pai, mãe, esposa, filho, ou para quem quisesse passear. O horário era estipulado e pronto. De resto, cada um fazia sua parte e isso propiciava um ambiente mais alegre e tranquilo de treinamento. Isso dava motivo a mais para sentarmos e não sairmos da mesa antes de uma hora. Hoje, você não encontra mais isso em time nenhum de futebol. Nós nos sentávamos para jantar às 7 da noite e todo mundo só saía da mesa às 8 horas, porque eles sabiam que podiam contar e fazer qualquer brincadeira, sem que nós, da mesa ao lado, usássemos o que ouvíamos no outro dia. Existia essa confiança e nós até participávamos do bate-papo no fim. Às vezes, vinha nosso chefe de segurança, o Castello Branco, que sempre tinha uma história hilária para contar. É este ambiente que hoje não se encontra mais. Jogador de futebol só quer saber de Facebook, Twitter, laptop... Eles chegam às 6h55 e já estão fora às 7h10. Não existe mais ambiente, porque cada um quer se comunicar com o mundo da forma dele e não quer ficar ali por 20 minutos para ter um entrosamento maior.
Ou seja, cada um já sabia os horários que teria de folga para aproveitar?
Felipão: 
A partir de Kuala Lumpur (local do último amistoso, vencido por 4 a 0 contra a anfitriã Malásia) fizemos todo o planejamento até o jogo final da Copa e entregamos aos jogadores. Todos sabiam qual era o dia da folga, em qual período era o treino, onde seria o jogo... Se a família fosse chegar, ele sabia qual dia estava preparado para receber. Isso foi feito também para mostrar que queríamos chegar à final, senão teríamos feito só da primeira etapa.
Depois de anos, nós tomamos conhecimento de histórias curiosas. O Ronaldo, já aposentado, revelou um episódio da Copa América de 1997, quando fugiu com o Romário da concentração, usando uma escada e com táxi esperando. Você não teve este tipo de problema? 
Felipão: Não, porque tinham os horários. Eles sabiam que jogariam contra a seleção da China e, depois, tinha jantar e recuperação. A partir daí, até o horário estipulado do dia seguinte, não mudaria nada para mim se fossem até para o inferno. Não estava preocupado com isso, porque estudei com fisiologistas e médicos os horários para recuperar, alimentar, descansar e sair. Se os médicos diziam que precisavam de tanto (tempo) para o próximo jogo, só organizei a partir disso, e já não estava mais comigo. Passo todo dia falando para o meu filho isso, isso e isso, mas não posso ir com ele quando sai de casa. Se ele fizer alguma coisa errada, tem de arcar com as consequências. Esta não era nossa preocupação e por isso que foi formado um bom grupo, pois sabiam que eu só cobraria os horários e treinos. Eu seria chato, como sou, mas não em relação aos outros horários. Nos dias que tinham de folga, não sabia onde estava o gato e nem estava preocupado.



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